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Conheça o Jardim Vital: um campo fértil virtual onde germinam saberes e práticas agroecológicas

  • Foto do escritor: Elaine Silva
    Elaine Silva
  • 10 de jun.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 10 de jun.

Semente, que já nasceu forte, cresce e floresce com cultivo e compartilhamentos


Numa manhã ensolarada de outono carioca, o Pegada Sustentável rumou até Maricá — município da Região Metropolitana do Rio, conhecido por sua forte conexão com iniciativas de economia solidária e agroecologia — para encontrar o etnobotânico e pedagogo José Verneck. Ele é o criador do Jardim Vital, um ecossistema vivo de disseminação de saberes e práticas sustentáveis que, em março de 2025, celebrou 10 anos de existência.

Mas, afinal, o que é esse tal jardim? É físico? É virtual? Para que serve? E quem é o homem por trás dessa ideia fértil?

José Verneck é um desses personagens que florescem onde menos se espera — no meio urbano, entre calçadas e canteiros. É autor de publicações paradidáticas sobre educação ambiental, todas disponíveis online, com temas que vão de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) à compostagem doméstica e aos impactos socioambientais da produção de comida na cidade.

Cores que alimentam: feijão-borboleta e o uso do azul na cozinha criativa


Com formação em pedagogia e mestrado pela UFRRJ, ele transformou o próprio quintal em horta durante a pandemia da Covid, cultivando flores de feijão-borboleta e novos modos de viver — uma resposta sensível ao isolamento e um convite ao reencontro com a terra. “Durante o período, consegui oferecer alimento para muita gente. Era uma horta com três galinhas, onde eu também fazia os experimentos do mestrado. Me alimentava bem, produzia bastante comida e distribuía. Cheguei a preparar xaropes para pessoas que estavam convalescentes”, lembra Verneck.

A proposta do Jardim Vital vai além do aspecto ornamental. Trata-se de um espaço pensado para nutrir e promover qualidade de vida por meio da agroecologia. “Existe o jardim zoológico, o jardim botânico, o jardim de infância, o jardim dos sentidos e o Jardim Vital, que é isso: o essencial do nutrir, do que é vital.”

Educador e apaixonado pela agroecologia, ele criou o Jardim Vital — a princípio, como um sítio-agrofloresta , um espaço onde a diversidade brotava em policultivos e partilhas. A proposta inicial, quando alugou o terreno para fazer a horta, não era vender verduras.

“Idealizei um espaço onde eu pudesse cultivar as plantas e, a partir desses ingredientes, criar algumas preparações — aí entra o processo de gastroalquimia. Queria aprofundar a pesquisa com flores comestíveis, que já vinha desenvolvendo no mestrado com o feijão-borboleta, e testar outras variedades.” Na época, ele também implantava hortas domésticas e aproveitava resíduos de poda para produzir seu próprio adubo, reforçando a lógica do cultivo circular e sustentável.

Depois, Verneck precisou dar adeus ao jardim físico quando o locatário vendeu a propriedade. Mas a semente já tinha brotado de forma frondosa, e o Jardim Vital seguiu propagando sua seiva no ambiente virtual. Hoje, o projeto se transformou numa plataforma digital de disseminação de práticas agroecológicas e culinárias. Verneck passou a ministrar cursos e oficinas ensinando técnicas de cultivo doméstico. “Levava kits com alimentos e promovia atividades práticas sobre compostagem, agroecologia urbana e aproveitamento integral dos alimentos, sempre com foco na autonomia e na reconexão com a terra”, conta.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que aproximadamente 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidas ou desperdiçadas anualmente, o que representa cerca de 1/3 da produção global destinada ao consumo humano. No contexto brasileiro, dados do Instituto Akatu indicam que aproximadamente um terço de todos os alimentos comprados em residências é desperdiçado — o que inclui não apenas os alimentos em si, mas também suas embalagens e os recursos utilizados em sua produção e transporte.



Pensando nesse cenário global, para José Verneck, o verdadeiro propósito do Jardim Vital é sensibilizar as pessoas sobre a importância de produzir seu próprio alimento, mesmo em casa. “Estou gravando um curso chamado Horta no Apê. Já devo ter uns 60% das aulas prontas, voltado justamente para quem tem pouco espaço — uma varanda, uma sacada que pega sol — e ali já dá para cultivar alimento.” A proposta é transformar metros quadrados inativos em metros cúbicos de vida, e o Jardim Vital cumpre esse papel.

Além de fazer o que é certo para o planeta e para a sobrevivência humana, José Verneck avalia que esse caminho exige muitas doses de coragem. “A vida urbana empurra as pessoas para a praticidade. Quem tem tempo de ir à feira, levar os alimentos para casa, higienizar, guardar na geladeira, preparar, descascar, temperar, cozinhar, servir... e depois lavar todos os utensílios? Isso demanda tempo, disposição, e uma vontade genuína de transformar esse momento em algo especial. Mas é possível, sim.”


Do mato ao prato: como tudo começou...


José conta que nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro e, desde cedo, entendeu que aquela Babilônia não era o seu lugar. A natureza sempre foi um chamado. “Na minha casa sempre teve muita planta. Para onde quer que nos mudássemos, minha mãe logo tratava de plantar. Era uma espécie de jardim nômade, e essa ideia sempre me acompanhou”, lembra. Mas o ponto de virada, ele diz, foi uma excursão da escola à locação das gravações do Sítio do Picapau Amarelo — adaptação da obra de Monteiro Lobato para a TV. “Era um sítio de verdade, não cenográfico. A galinha era viva, o porco era porco mesmo. A horta era um pomar lindíssimo. Tinha um milharal, um monjolo com pilão d’água. Eu via tudo aquilo pela televisão e, de repente, aquela vida possível se materializou na minha frente. Isso mudou totalmente minha perspectiva.”

A partir daí, intuitivamente, começou a buscar trabalhos que o levassem para ambientes mais silvestres e longe da violência urbana. A primeira parada, ainda com a família, foi em Belém do Pará, onde se alfabetizou em meio a banhos de rio. Aos 18, foi surfar em Florianópolis (SC) e decidiu ficar. Trabalhou em um hotel, como assistente de cozinha — e foi ali que brotou a curiosidade pela alquimia da culinária. Depois virou guia de turismo na Bahia, coordenou o projeto de educação ambiental Sala Verde em Inhotim (MG), passou por projetos ambientais em Goiás e São Paulo e também pelo rio Negro, na Amazônia, atendendo comunidades ribeirinhas, propagando sementes da agroecologia, de compostagem, de conversão de resíduos em recursos. “Seja dentro de casa, por pesquisas em ecoturismo e educação ambiental, ou pela experiência em paisagismo e jardins botânicos, fui entendendo que precisava ir além do ornamental.”

Atualmente, além do trabalho de sensibilização realizado pelas redes sociais com a plataforma Jardim Vital, José Verneck também atua no projeto Horta em Casa Maricá, que oferece assistência técnica gratuita aos moradores da região que desejam cultivar alimentos saudáveis em casa, seguindo os princípios da agroecologia. Entre 2022 e 2025, o projeto — que faz parte do ecossistema Bem-viver Alimentar, parceria da Prefeitura de Maricá, por meio do ICTIM, com a Cooperar — impactou 4 mil pessoas direta e indiretamente. Foram mais de 430 hortas implantadas e mais de 30 mil mudas fornecidas.


Acervo:


Para acompanhar mais sobre o trabalho de José Verneck e sobre Jardim Vital, você pode visitar o perfil oficial no Instagram e no canal do YouTube.

 


 
 
 

3 comentarios

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Invitado
12 jun

Amei!

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Invitado
12 jun

Que reportagem massa! Amei!

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Invitado
12 jun

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