Gente boa ocupando território com amor e eu mergulhando nas minhas sombras
- Elaine Silva
- 18 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de mai.

No último sábado, 17 de maio, acordei cedinho e fui “meio no escuro” participar de uma ação promovida pelo pessoal da Escola do Fluxo, o Flow Day. Não sabia mesmo o que esperar. Só vi um post do Cadu Cassau dizendo que teria aula de yoga, trilha e limpeza da encosta no Morro da Babilônia, na zona sul do Rio de Janeiro. Como faz tempo que quero me envolver mais com projetos de impacto positivo, achei que seria uma boa hora para começar.
Não sei ao certo o volume de lixo que coletamos. Foram dezenas de sacos. Na divisão dos times entre coletar e separar, preferi ficar na equipe que colocou a mão fundo no lixo para achar plástico duro e metal. E, cada vez que eu mergulhava naquela imensidão suja, não sentia nojo. Sentia apenas que precisava fazer aquilo. E, durante o processo, era como escarafunchar as minhas próprias emoções, indo fundo nas minhas sombras.
Às vezes, vivendo nas nossas bolhas de conforto e com o básico garantido, a gente nem consegue imaginar o que é viver no limite. E, a despeito de saber que o que fizemos é muito pouco — as encostas nos morros cariocas estão extremamente em risco, o lixo contamina o lençol freático e a natureza — não esquecendo que fazemos parte dela — sofre. Mas, mesmo assim, foi um sentimento de vitória coletiva. Um grupo de pessoas realmente querendo mudar o jogo, do jeito que for possível fazer.
Quero voltar alguns passos e escrever sobre como mexer no lixo da maneira que eu mexi foi algo tão especial nesse momento da minha vida. Tudo o que aconteceu naquele sábado é tão difícil de expor em palavras. Foi uma viagem para dentro com olhar para fora. Mas vamos começar com um pouco de contexto: minha energia não estava tão boa para interagir naquele dia, apesar de ter certeza de que as pessoas que estavam ali são exatamente minha tribo — gente com ideias e objetivos bem parecidos com os meus.
Contudo, no dia anterior, me permiti entristecer por conta de projeções que fiz sobre uma situação específica — que, obviamente, eu não controlo. Portanto, nesses momentos de tristeza, tudo o que eu almejo é ficar dentro do meu casulo em casa, mas me forcei e fui. Sabia que precisava de algo — e esse algo era uma boa dose de realidade.
Durante a aula de yoga com o maravilhoso Bruno Zanchetta, comecei a despertar o corpo e, de repente, bem em cima de mim brilhou o sol resplandecente. Lembro de ver todos os outros praticantes na sombra, e a luminosidade somente sobre mim, bem no centro do local em que estávamos praticando. Abri meu coração naquele momento com todo o amor que sou capaz e sabia que, a partir disso, tudo o que tocaria estaria envolto por essa minha capacidade de amar.
E na subida ao morro, o esforço físico foi me colocando em estado de consciência interna, uma espécie de meditação. E, durante a trilha, permaneci no silêncio. Fiquei prestando atenção nas conversas ao meu redor. Notei que muitas pessoas — aliás, a grande maioria — não se conhecia. Estavam ali dividindo suas histórias. Eu até senti vontade de me conectar, mas, ao mesmo tempo, estava tão imersa em mim que não consegui passar a barreira da minha timidez natural, que há muito tempo aprendi a disfarçar.
Lá no alto do Morro da Babilônia, o Cadu conduziu uma pequena sessão de breathwork. Eu, que já fiz muitas desde que conheci a Escola do Fluxo, ainda na época da pandemia, sou consciente de quanto a respiração tem o poder de ajudar a acessar o que há de mais profundo em mim. Dessa vez, contudo, não consegui me entregar como já fiz. De qualquer maneira, ainda assim senti ainda mais a abertura do meu coração.
Às vezes, a gente se envolve tanto com os nossos dramas que esquece que somos apenas um espírito que possui um corpo — e não o contrário. Naquele momento em que estava entrando fundo na sujeira de todo tipo, com coisas que foram jogadas lá há muito tempo, que estavam contaminadas, de repente, ali e aqui, eu encontrava no meio do caos um carrinho de brinquedo, um chinelo, um pedaço de roupa... Então eu pensava naquelas pessoas que tinham tido aquela vida, que deixaram aquelas coisas para trás. É uma metáfora que me encoraja a desapegar do que não faz mais sentido — como a autoindulgência e o drama exacerbado.
Eu “estou” uma pessoa muito feliz no hoje. Moro onde amo morar, tenho a dança e o yoga, possuo recursos financeiros e intelectuais, tenho poucos e bons amigos, uma família que me ama à distância. Sou cercada de abundância — e mesmo assim fico buscando motivos para sofrer. Busco no álcool um alívio para esse turbilhão de pensamentos que me invadem.
Depois dessa experiência no Flow Day, me senti inspirada e compelida a plantar uma nova semente de amor próprio. Entendo que não adianta anestesiar a dor com álcool ou qualquer outro alterador de consciência que apenas disfarça. A única forma de realmente aliviar essa tormenta caótica que é minha mente é organizar e colocar para fora — e nada melhor para isso do que escrever. Isso significa que o Pegada Sustentável está oficialmente de volta, depois de um ano e meio de ausência.
O projeto GOTA – Gente Ocupando Territórios com Amor é uma iniciativa da Escola do Fluxo e parceiros. Existem múltiplas oportunidades de ações a serem feitas, como cultivo de horta, pintura de casas, plantio de mudas e outras ações. O projeto se propõe a ocupar esses espaços. Quem sentir de participar e contribuir acesse: GOTA
















Elaine, estive nesse evento e lembro de você, foi sim um encontro com o nosso interior, cada um com seus sentimentos. Li tudo que você escreveu, e te digo, você é uma mulher de muita coragem. Parabéns.
Elaine, obrigada por compartilhar!! Seu texto veio como resposta a uma pergunta que fiz ao universo hoje cedo! Que sempre haja luz no seu caminho!
Q lindo e profundo! O texto revela uma entrega genuína ao processo de transformação pessoal, mostrando como um simples ato de cuidar do ambiente tbm pode ser um gesto de autocuidado. Vc traduziu com sensibilidade a conexão entre a limpeza externa e a interna, nos inspirando a olhar p dentro de nós com mais coragem e amor.
Parabéns Mana!